segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Síndrome de Colônia (or About the Syndrome of Colony)

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Nota: o texto a seguir foi produzido há cerca de oito anos. Se fosse escrito hoje, talvez as assertivas pudessem ser mais contundentes em alguns aspectos, menos em outros – houve mudanças, tanto nos meus pontos de vista quanto na realidade nacional. Todavia, em linhas gerais, ele ainda reflete a minha opinião.
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Síndrome de Colônia
(or About the Syndrome of Colony)

Mais de três dos cinco séculos de História do Brasil transcorreram com o país na condição de “Colônia”, na rigorosa acepção do termo. Após o imbróglio da elevação da situação de Vice-Reino (leia-se: “Colônia”) ao status de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, de breve hausto, soaria um certo brado de “Independência ou morte!” (siga este link para conhecer a verdadeira história por trás do brado). E o grito retórico retumbaria das margens do tal Ipiranga – uma sanga passável alçada pelo episódio à condição de “Grande Rio” –, proclamado em alta voz por um príncipe estrangeiro, indisciplinado e concupiscente.

“Ipiranga”, em Tupi – tronco linguístico dos vencidos, que, a propósito, já possui muitos galhos decepados pelo idioma dos vencedores – é “rio vermelho”. Talvez esse “vermelho” seja de sangue... Esse sangue, talvez, o derramaram em outras eras, mas não naquele dia.

Era um sete de setembro, e os colonizadores se foram. Mas, aqui, nem morte – não naquele sete de setembro, não naquelas margens do Ipiranga –, tampouco independência. No comando da nova nação, permaneceriam os mesmos portugueses. A breve história do império transcorreria sob o controle dos europeus, representados pela figura da família "imperial" "brasileira", a despeito de todos os movimentos nativistas e nacionalistas que, a exemplo dos que irromperam antes, continuariam a estourar durante a monarquia. E aí, sim, muita gente morreu!

Até que no final do século XIX – aquele século europeu, sobretudo francês – uma nova imagem pictórica (desta vez sem o grito) de um marechal senil – e monarquista! – garbosamente trepado num cavalo baio bem selado, apearia os europeus do trono do império fugaz. E a partida da anacrônica realeza de volta para o Velho Continente abriria finalmente as portas culturais da nação para si própria...(?) Bullshit! Daqui mesmo das Américas, já assomava a nova horda de colonizadores. E que permanecem por aqui! Basta uma ligeira espiada para perceber, por exemplo, a marca do seu idioma – o idioma dos vencedores, um novo latim que não conhece fronteiras. Pouco a pouco, foram-se os galicismos. E os anglicismos aportaram. Abat-jour virou spot, bustier converteu-se em top, coupon agora é ticket, bidet é... Não, bidet ninguém usa mais. Desde então, a exceção de um ou outro movimento (como o de 1922), cultua-se passivamente aquela insidiosa cultura de plástico.

Alguém replicaria: “mas, em que pese tudo isso, há uma identidade cultural brasileira”. A tréplica é dialógica: “cadê ela, então?”. Talvez esteja na música que pulula fácil pelos rodeios, micaretas e bailes funk...? Talvez a encontremos nos canais de TV, nas novelas exóticas ou nos talk shows miméticos? Ou na sit-com e no reality-show arremedados? Ou nas banalidades das tardes de domingo..? Quem sabe a nossa identidade cultural se encontre encarcerada entre as paredes de “sinistras bibliotecas”, cheias de livros e vazias de almas. Talvez esteja restrita à academia, ou possuída por uns poucos intelectuais recolhidos aos seus gabinetes, ou oculta nas habitações daqueles que a podem comprar sob a forma de arte...

OK, reconheço: a diversidade cultural deste Brasil, composição de múltiplas origens, é de fato muito rica. Mas é também fragmentada, estanque e circunscrita aos seus próprios nichos e núcleos. A “cultura geral”, por assim dizer, é aquela já exemplificada, bem ajustada ao mainstream e conforme os interesses da matriz. É aquela que não se presta a distinguir um povo como nação, na sua acepção de unidade – somos muitas nações, o que não é de todo ruim, mas todas sujeitas ao “geral” ramerraneiro, trivial, vulgar.

Meanwhile, eles vão ficando... E shove down the throat de quem quer, de quem não quer e de quem don’t give a damn sua fast-food, sua roliúde, seu rock'n roll e sua ideologia – seu the way of life, after all. Mas sempre com eyes wide open sobre o nosso mercado, sobre as reservas do nosso petróleo (theirs will soon be history), sobre a nossa rain forest inhabited by indians and surrounded by a barbarian people…

So, anyway, se um novo grito de independência haverá de soar, I really do not know. But if that happens, the time came that we might scream “independence to death!”...

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Marcello Cabral de Souza

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