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Em vários países, inclusive nos que fizeram parte do bloco soviético, grupos saudosistas de Hitler e direitistas em geral ganham visibilidade e espaço institucional.
Por Mário Augusto Jakobskind
Na Europa, que atravessa uma grave crise provocada pelas regalias concedidas ao capital financeiro, avança uma onda direitista que não se resume no crescimento eleitoral dos partidos de direita, como, por exemplo, na França, onde Marine Le Pain, filha de Jean Marie Le Pain, credencia-se a disputar a eleição presidencial e segundo as pesquisas já contaria com mais de 15% da preferência dos eleitores.
A onda de direita se alastra em países onde vigorava depois da II Guerra Mundial o regime socialista, para alguns historiadores e analistas marxistas, “de caráter burocrático e imposto pela ponta das baionetas” do país que foi decisivo na derrota do III Reich nazista de Adolf Hitler.
Pois bem, já se passaram mais de 20 anos do fim da União Soviética e o desmantelamento dos regimes socialistas da Europa Oriental. Quando a bandeira soviética desceu o mastro em dezembro de 1991 e os países considerados satélites optaram pelo retorno do modo de produção capitalista, o mundo saudou efusivamente o início do que consideravam uma “nova era”. Em 1997 este jornalista, circulando em Varsóvia, capital da Polônia, testemunhou ainda o clima de euforia pelo fim do regime socialista. Conversando com um mendigo na área da Cidade Velha de Varsóvia ao ser perguntado o que achava da “nova era”, o cidadão polonês respondeu sem pestanejar: “agora sou livre”.
Em 2012, a “nova era” trouxe de volta uma série de fantasmas dos anos 1930 que se imaginava sepultados pela história. Em vários destes países, inclusive em ex-repúblicas soviéticas, símbolos do nazismo estão de volta e adquirem até componentes oficiais. É o caso da ex-república soviética da Estônia, hoje um país independente, por sinal pela primeira vez em sua história. Por lá, o Parlamento tem programado aprovar neste mês de março, com ampla maioria, a concessão do título de “lutadores da liberdade” aos membros da “legião SS” estoniana que na II Guerra Mundial combateu ao lado de Hitler contra os soviéticos. O fato vem sendo lembrado há anos pelos veteranos estonianos da SS, aproximadamente 12 mil homens, que glorificam sua participação na guerra, em atos oficiais aos quais convidam ex-SS e jovens neonazistas de outros países. Agora, os combatentes serão reconhecidos oficialmente como “lutadores da liberdade”.
Mas o retorno ao passado não se limita a Estônia. Na região ocidental da Ucrânia, os combatentes da divisão “Galizia” das SS realizam atos públicos saudando a participação na luta ao lado das forças nazistas. Depois que a Ucrânia deixou de ser república soviética, os nazistas saíram do armário e aparecem em público com sessões nostálgicas dos tempos em que colaboravam com as forças de Adolf Hitler.
SAUDOSISMO
Na Europa Ocidental, mais precisamente em Budapeste, a capital da Hungria, nos dias atuais, grupos de ultradireita da Alemanha, Eslováquia, Bulgária e Sérvia, também nostálgicos do nazismo, reúnem-se a cada 11 de fevereiro, para comemorar o chamado “dia de honra”. A jornada recorda o fim da batalha pela cidade, na qual um exército de 100 mil soldados alemães e húngaros, cercados por soviéticos, manteve posição durante 52 dias, em 1945.
Na convocatória deste ano, os simpatizantes do nazismo hoje com livre trânsito na região assinalavam que “o ocidente se defendeu das ondas vermelhas das estepes da Ásia com um imenso tributo de sangue e heroísmo”.
Vale recordar que o glorificado cerco de Budapeste teve como consequência a aniquilação de grande parte dos judeus que ainda permaneciam na cidade, nas mãos dos húngaros aliados do II Reich. E agora, os pró-nazistas, também conhecidos como neonazistas, avançam no bojo da ultradireita.
Na Lituânia, outra ex-república soviética e hoje um país independente, o fenômeno não é diferente. Nos livros de história destinados aos estudantes, ou seja, à nova geração, praticamente desapareceu o registro da aniquilação de 195 mil dos 220 mil judeus locais, entre 1941 e 1944, ou seja, 95% desse grupo étnico.
Os lituanos preferem lembrar apenas dos seus 30 mil compatriotas deportados para a Sibéria em 1941 e as execuções de um número incalculável de colaboracionistas no nazismo. Para o jornalista alemão William Totok, “em muitos países do antigo bloco oriental está se abrindo um caminho para uma versão unilateral da História construída sob medida pela ultradireita”. No tempo de vigência do socialismo, que se extinguiu no final dos anos 1980 e no início dos anos 1990, os nazistas que agora agem livremente eram reprimidos e impedidos de se mostrar. Mas, na primeira oportunidade, voltaram com toda a força e não têm provocado tanta indignação como se esperava dos segmentos democráticos.
Por iniciativa do ex-premier tcheco Václav Havel, recentemente falecido, e outros dissidentes anticomunistas do antigo bloco oriental, foi elaborada a chamada “Declaração de Praga”, em junho de 2008, abrindo espaço para que muitas tendências internas, nesses países, equiparassem nazismo e comunismo. A União Europeia bateu palmas à iniciativa. No espírito da “Declaração de Praga”, o governo da Romênia prepara uma lei que proíbe atos públicos que “propaguem ideais totalitárias, ou seja, fascistas, comunistas, racistas ou chauvinistas”. Na República Tcheca, o Partido Comunista está ameaçado de cair na ilegalidade pela mesma ideia.
Quanto a Polônia, em dezembro do ano passado, ocorreu um fato sintomático. O jornalista polaco Kamil Majchrzak, redator do Le Mond Diplomatique, pediu, durante uma conferência que proferiu em Berlim, para não ser fotografado, pois estava ameaçado pela extrema direita do seu país.
Na Hungria, os membros do ex-Partido Comunista, muitos deles agora no Partido Socialista, poderão ser perseguidos judicialmente por “delitos comunistas” cometidos antes de 1989, de acordo com as novas normas introduzidas pelo governo Viktor Orban.
A Hungria é objeto de preocupação por dirigentes europeus. Orban vem sendo agora acusado de adotar medidas totalitárias. Não é de hoje que seu governo vem restringindo a democracia com medidas e projetos que atentam contra a liberdade de imprensa ou a divisão de poderes. Mas corria tudo bem para a União Europeia, que só se manifestou depois que o governo húngaro anunciou medidas como a mudança do sistema fiscal, a nacionalização dos fundos privados de pensões, a concessão, ao Parlamento, do direito de veto sobre a legislação europeia e, a submissão do Banco Central ao controle direto do governo.
(Artigo publicado na Revista Caros Amigos nº 180, março de 2012, página 38.)
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“Auschwitz, que Auschwitz? O que é que se passou?
Eu não fui lá. Você foi?”, Nikos Mihaloliakos,
líder do Aurora Dourada.
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Atualização do blog:
No último dia 6 de maio, nas eleições da convulsiva Grécia, o “Berço da Democracia Ocidental”, o partido nazifascista Aurora Dourada obteve 6,9% dos votos e conquistou 21 cadeiras no Parlamento. Novas eleições estão marcadas para o dia 17 de junho, uma vez que não houve acordo entre lideranças para a formação de um governo de coalizão. Pesquisas para o novo pleito indicam que o partido de extrema-direita conta com 4,2% das intenções de voto.
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