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O texto a seguir foi escrito há alguns anos. Alguns argumentos não se mantêm efetivos.
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A Ciência, a Religião e a Língua da Cobra
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A Ciência, a Religião e a Língua da Cobra
O encontro mais significativo entre a ciência dos homens e a sua religião foi amistoso. Os maiores nomes da revolução científica moderna, ocorrida no Século XVII, eram cristãos (Galileu, Kepler, Newton, Redi, entre outros) e o seu estímulo era examinar, pela lente da ciência, a obra da criação.
No Século seguinte, chamado “das Luzes”, o homem da ciência passou a ver o seu Deus de uma forma impessoal, holística, panteísta – o ente da criação não estaria, necessariamente, envolvido nas coisas do mundo e da vida humana. E isso quando muito, pois o materialismo ateísta avançava pelas vias do Racionalismo, do Empirismo e do Positivismo.
Saltando ao Século XX, após a conturbada acomodação de posições dos Oitocentos, as relações entre ciência e religião assumem formas diversas. Algumas se fundamentam no embate, na negação arrogante e agressiva, cada lado a apontar o dedo acusador para a visão de mundo do outro lado; outras vislumbram um novo milênio menos sectário, com a perspectiva de uma nova revolução alicerçada na questão essencial: ciência e religião são de fato inimigas ou podem ser parceiras?.. Ou seriam apenas duas estranhas?
A visão geral, do senso comum, poderia enxergá-las como eternas antagonistas, arqui-inimigas no embate milenar entre fé e razão, cada uma insidiosamente empenhada na aniquilação da outra, a se digladiarem perpétua e violentamente nas batalhas de uma guerra inglória.
Uma visão de neutralidade também é possível – e sedutora. Ciência e religião como duas estranhas, cada uma a se ocupar do seu próprio domínio sem se esbarrar – por absoluta impossibilidade, haja vista a natureza antitética de cada domínio: um concreto, racional; o outro abstrato, espiritual. De um lado a ciência a se ocupar da relação de causalidade entre os fatos; do outro, a religião, apontando para a transcendência do sentido e do propósito da vida. Simples assim...
A condição da neutralidade é inegavelmente confortável. Cada uma delas se firmaria sobre seus próprios fundamentos e se ocuparia dos seus próprios domínios, sempre a uma distância segura uma da outra – a César o que é de César... Todavia, mesmo sob a perspectiva da “intangência” e do acordo tácito de não agressão – e de não cooperação, naturalmente –, a complementaridade entre ambas, fenômenos civilizacionais que o são, é inegável. Portanto, e a despeito da aparente comodidade, a condição de neutralidade não é viável nem satisfatória para lado algum.
Em decorrência da inviabilidade da condição de neutralidade, o que se observa ao longo dos séculos é o anseio por uma parceria; e não apenas complementar – como de resto acaba ocorrendo, não obstantes as aspirações mais radicais – mas também associativa, entremeada, entrelaçada, com os tentáculos de uma a avançar suavemente sobre o domínio da outra.
O fato é que a ciência, na medida em que “infla” sua bolha de conhecimento, percebe o aumento proporcional dos pontos de contato com o inexplicável e o ininteligível, a descansar além dos limites da razão – e eis aí o campo para a especulação metafísica. Do mesmo modo a religião (e faça-se aqui a devida distinção entre religião histórica e o fenômeno da fé), sob a roupagem de uma nova teologia, mais gnóstica e menos dogmática, procura igualmente o exercício da razão como meio de escapar ao tradicional e ao institucionalizado. Procura escapar, sobretudo, à ortodoxia medieval, distanciando-se cada vez mais de uma escolástica ultrapassada que já não apresenta respostas satisfatórias, tampouco coerentes com as mais básicas e mais razoáveis exigências sensoriais do ser humano moderno.
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2 comentários:
Ei, Marcello,
se tem assuntos que me atraem bastante são estes que você cita no texto, que gostei de ler.
li o Código Da Vinci e assisti anjos e demônios e já tô querendo é ler o livro
sabe o que fico sentindo e isto é por minha experiência, minha vida, fui criada no catolicismo, faz mal, muito mal, mata o crescimento, embota os sentidos
apesar de não ter comentado sobre o texto em si
moço, é um assunto que me agrada render
abração
O tema me atrai também, Vais, também pela experiência pregressa - e não muito agradável - com as religiões dos homens. O texto, aliás, escrevi numa época que, apesar de namorar com a Ciência, andava paquerando a Religião, rs.
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