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Quando Fulano e Cicrano convivem há muito, cada um acaba adquirindo certos tons de voz e certas expressões faciais insuportáveis – para o outro. Sabe-se lá por obra de que artifício, Fulano se vê induzido a notar cada vez mais claramente aquela peculiar levantada de sobrancelhas de Cicrano (que na verdade sempre existiu, mas agora Fulano aprendeu a detestá-la, por insignificante que seja o gesto).
Concomitantemente, Fulano presume que Cicrano sabe muito bem o quanto aquilo o incomoda, mas continua fazendo – e de propósito! Fulano jamais suspeitará que ele também possui tons de voz e olhares que infernizam Cicrano (afinal, é claro, ele não se enxerga nem se ouve).
Fulano e Cicrano começam então a expressar seu ódio mútuo por meio de palavras – se escritas no papel, elas seriam inofensivas, mas ditas com tal voz e em tal momento, equivalem a uma agressão. Chega-se em tal ponto que um diz coisas com o propósito expresso de ofender o outro, mas se queixa quando o outro reage às ofensas; e o outro ouve coisas que imagina tenham sido ditas para ofender, e reage de modo desmedido no mesmo grau que, supõe, fora ofendido.
Nesse estado de coisas, passa a vigorar uma espécie de padrão duplo: enquanto Fulano exige que tudo o que diz seja julgado exclusivamente pelas palavras em si, julga as palavras de Cicrano com a mais completa e ostensiva suspeição – interpreta tons, considera contextos e pressupõe intenções. E vice-versa.
Assim, depois de cada briga, cada um sai para o seu lado plenamente convencido de que é absolutamente inocente... E do quanto o outro é culpado... E assim vão seguindo, na mais imperfeita e desarmônica convivência.
...(ilustrações minhas)
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Hahahaha! Conviver é uma arte para poucos.
ResponderExcluir♥
com vc é fácil...
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