sábado, 23 de abril de 2011

"Faça-se Deus"

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Saturno devorando um filho, Paul Rubens (detalhe)
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A partir de hoje, o blog trará uma série de postagens sobre as religiões e seus deuses (com ênfase no tronco judaico-cristão) pela perspectiva do pensamento filosófico; e sobre o consequente (e inevitável) conflito entre fé e razão.

Nesta introdução, o homem cria deus e surgem as primeiras "filosofias religiosas".

(Alerta: não se pretende realizar aqui um tratado com rigores acadêmicos sobre tema, uma vez que o blog não possui elementos teóricos para isso. Tratam-se, basicamente, de impressões gerais recolhidas de leituras afins, organizadas sobre um eixo de compilações das mesmas leituras. As referência bibliográficas serão apresentadas no final da série).

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"Faça-se Deus"

Desde que sepulta seus mortos, e sabe que será um dia ele próprio sepultado, o homem jamais deixou de pensar em deus, ou nos deuses. No começo, o “pensar em deus” suscita mitos e crenças, apenas, pelos quais se procura explicar tudo, desde um relâmpago, até o caráter do próprio deus em questão.

O tempo passa, surge algo novo. Agora, uma nova faculdade é usada para a compreensão das realidades física e humana – e também sobre-humana, ou metafísica. Entra em cena a especulação racional, o homem começa a pensar em deus “filosoficamente”.

Os primeiros assim chamados “filósofos”, mais preocupados com a physis (princípios naturais, eternos, imutáveis) do que com o nômos (leis e convenções humanas, costumes, regras de conduta) voltam sua atenção para os fenômenos naturais, procurando entendê-los e explicá-los sem a interferência do mito e da crença. As explicações meramente causais, todavia, não bastam ao espírito inquieto daqueles homens, que passam a buscar a compreensão do “princípio” de cada fenômeno, a causa primeira de tudo o que há.

Inaugura-se, portanto, uma transição, mas que somente se levará a efeito mais tarde. É a transição do pensamento sobre o “sensível” para o pensamento sobre o “inteligível”. Milésios e pitagóricos são os agentes germinais desta revolução. O próprio Pitágoras talvez seja o primeiro a pensar o divino de um modo especulativo-racional. Seus seguidores, a exemplo do mestre, abandonam a religião homérica oficial – calcada em mitos e lendas – e experimentam o que se pode chamar de uma primeira “filosofia religiosa”, ou de uma primeira “religião filosófica”; a imortalidade da alma e a metempsicose* são os fundamentos desta nova corrente de pensamento.

*Doutrina que professa a crença no movimento cíclico do espírito, que retorna à existência material após a morte do antigo corpo; doutrina da reencarnação
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(Próxima postagem: "Sensível Versus Inteligível")

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