terça-feira, 22 de maio de 2012

Freud e a Biodiversidade

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Hoje, 22 de maio, é Dia Internacional da Biodiversidade. Biodiversidade é um conceito ecológico que representa o conjunto de toda a variedade e variabilidade de organismos vivos, desde faunas e floras até microrganismos, compreendendo ainda a complexidade de genes de cada espécie, a diversidade de espécies de cada população natural, e a diversidade de interações entre as espécies nos ecossistemas, diversos também. A data foi escolhida pela Organização das Nações Unidas – ONU em função da aprovação, em 22 de maio de 1992, do texto final da Convenção da Diversidade Biológica (Convention of Biological Diversity).

(Breve parêntese: a Convenção da Diversidade Biológica possui 193 signatários, dos quais 168 já a ratificaram, inclusive o Brasil, país com uma das maiores biodiversidades do mundo – mas, também, segundo o MMA, com uma lista de 627 espécies reconhecidamente ameaçadas de extição.)

O objetivo do Dia Internacional da Biodiversidade é despertar ou intensificar a consciência, individual ou coletiva, sobre a necessidade da preservação das espécies e de seus habitat naturais. Apesar do relativo desinteresse de alguns governos – e absoluta insensibilidade de muitas corporações – iniciativas desta natureza vêm produzindo resultados positivos. Ao menos entre a maioria das pessoas, sobretudo entre os mais jovens, já é notável a mudança de paradigma com relação ao respeito à natureza. Para comprovar isso, basta lembrar o sucesso que fazia um estilingue há vinte, trinta anos ou mais, e o seu decorrente fracasso como objeto de desejo da molecada.

Também entre alguns intelectuais, acadêmicos e, em menor escala, políticos, especialmente aqueles de alguma forma vinculados às ciências naturais, a sensibilidade à causa é também digna de nota. Mas nem sempre foi assim. Nos tempos do estilingue e da arapuca, na “era de ouro” das monarquias que se precipitavam majestosas ao “nobre esporte” das caçadas (é certo que ainda há o anacronismo régio dos caçadores de raposas e elefantes), naqueles tempos em que o homem ainda se via como inexorável e absoluto senhor da natureza, naqueles mesmos dias, Sigmund Freud, no seu O Mal-estar na Civilização, escreveria o que se segue:

“(...) Percebemos o alto nível cultural de um país quando vemos que nele se cultiva e adequadamente se providencia tudo o que serve para a exploração da Terra pelo homem e para a proteção dele frente às forças da natureza; em suma, tudo o que lhe é proveitoso. Em tal país, os rios que ameaçam inundar as terras têm seus cursos regulados, e suas águas são conduzidas por canais até os lugares que delas necessitam. O solo é cuidadosamente trabalhado e plantado com a vegetação que lhe for apropriada, os tesouros minerais das profundezas são extraídos com diligência e usados na fabricação dos instrumentos e aparelhos necessitados. Os meios de transporte são abundantes, rápidos e confiáveis, os animais selvagens e perigosos se encontram exterminados, e prospera a criação daqueles domesticados.” (Sigmund Freud, O mal-estar na civilização, Penguin & Cia das Letras, página 37)
Pois bem, pense a respeito.

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sexta-feira, 18 de maio de 2012

Evolução e seus equívocos (II)

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Evoluídos ou adaptados: o equívoco da pretensão

Na última postagem, o blog discorreu sobre um equívoco muito comum quando o tema é evolução humana: a ideia enganosa de que o homem “veio do macaco”. A certa altura do texto, o uso da expressão “maior complexidade das características humanas” em vez de “características humanas mais evoluídas” para comparar humanos e símios não é casual, tampouco mera pretensão retórica. Chamar uma espécie de mais ou menos evoluída que outra é uma imprecisão. Duas espécies são, apesar da maior ou menor complexidade de características, apenas diferentes. Por exemplo, se fosse correto afirmar que “o macaco não é tão evoluído quanto nós por não ter cérebro desenvolvido” seria também correto dizer “que não somos tão evoluídos quanto os elefantes porque não temos tromba”.

A rigor, definir uma espécie como mais “evoluída” que outra não é sequer possível. Além da carga de subjetividade do conceito “evoluído”, é necessário levar em conta a alta complexidade da própria Evolução: longe de ser linear, ou ascendente, ou com "degraus evolutivos", o processo é ramificado e intrincado como os ramos da árvore mais frondosa. O que se costuma fazer – e, perceba, quem “faz” é sempre o ser humano – é eleger uma característica que nos pareça mais interessante, mais “familiar”, para escalonar as espécies naturais dentro de uma pseudo-hierarquia evolutiva.

Para ilustrar, tomemos dois exemplos: o ornitorrinco, um mamífero da Ordem Monotremata, e a samambaia, uma planta da Divisão Pteridophyta.

O ornitorrinco (do grego "focinho de ave"), animalzinho meio pato meio castor que vive na Oceania, é um mamífero muito primitivo. Nessa espécie, diferentemente dos mamíferos ditos “mais evoluídos”, não há os aparatos necessários para gestar e amamentar filhotes. O ornitorrinco (bem como a equidna, único outro representante da Ordem dos monotremados) é um mamífero que não engravida, mas põe ovos; e cujos filhotes não mamam, mas lambem o leite que brota da pele da mãe.

Todavia, há uma característica que representa um significativo avanço evolutivo para esses animais. Seu famoso “bico" é usado para sondar o fundo lamacento de pântanos e lagos e detectar a mais leve emissão de campo elétrico gerado por presas em potencial. O ornitorrinco seria, portanto, a se tomar como referência o critério do “bico sensorial”, o animal “mais evoluído” da face da Terra.

Mas, se é dotado de um avanço tão notável, por que o animal manteve outras características tão primitivas? A resposta é simples: a forma primitiva se manteve estável porque não precisou se modificar. O antepassado do ornitorrinco se adaptou tão bem ao seu meio ambiente, ainda que com estruturas reprodutivas “pouco evoluídas”, mas com uma estratégia de caça “muito evoluída”, que pouco precisou se modificar ao longo de milhões anos.

E a samambaia, essa plantinha decorativa hoje tão comum nas casas quanto era nas florestas de... 300 milhões de anos de atrás!? Mas, antes de revelar o quanto a samambaia pode ser “evoluída”, uma questão preliminar: "Por que é tão comum pensar que os animais são mais evoluídos que os vegetais?" Não por outra razão senão pelo fato de que os animais são mais próximos da “espécie ideal”, o ser humano – claro, “ideal” para nós, seres humanos. Se tomarmos a eficiência como critério para nortear o conceito de evolução, são os vegetais os mais evoluídos, pelo menos no aspecto da nutrição. Vegetais não precisam caçar, coletar, plantar ou colher, tampouco se sujeitar aos riscos e ao gasto de energia que essas atividades representam. Vegetais produzem com uma eficiência inigualável o próprio alimento. E sem fadiga, sem dor, sem sofrimento... Mas, voltando à samambaia, que não produz sementes nem frutos nem flores como suas primas distantes, as angiospermas, e que está aí pelo planeta há pelo menos 300 milhões de anos. Se o critério escolhido para reger o conceito de evolução for a sobrevivência, a samambaia não é um sucesso?..

Para se ter, portanto, uma noção comparativa entre a evolução de duas espécies, ou de dois grupos, em vez de se usar a expressão “mais evoluída”, é preferível utilizar “mais adaptada”. E em termos de adaptação, aliás, nós, os primatas, somos um fracasso se comparados, por exemplo, aos insetos. Insetos representam dois terços do total de espécies de animais descritas. Seus atributos – a produção de milhões de ovos, o tamanho reduzido, o voo, a metamorfose... – permitiram que eles se espalhassem por todo o planeta sob a forma de mais de um milhão de espécies. E aí estão eles até hoje.

Evoluídos, todos nós seres vivos somos. Desde a mais simples bactéria – que está por aí há mais de um bilhão de anos! – até o recentíssimo Homo sapiens – que existe como espécie apenas há cerca de 100 mil anos (datação controversa: há os que defendem 200 mil e os que admitem 50 mil) – cada ser vivo tem a sua própria história natural. Ao longo dessa história, e pelos auspícios da evolução biológica, cada espécie é provida de estruturas mais ou menos complexas. A chave é a adaptação ao ambiente, cujo maior ou menor sucesso definirá seu tempo de permanência aqui, neste “pálido ponto azul”.

Aliás, tomando nosso atributo exclusivo, a capacidade de raciocínio lógico-matemático, que nos coloca em posição de destaque em relação aos demais seres vivos – não porque somos “mais evoluídos”, mas pelo sucesso adaptativo decorrente desse atributo – algumas questões podem ser suscitadas: (notem-se bem as perguntas que não se referem ao “indivíduo”, mas à “espécie”)

- Somos, de fato, a “espécie dominante” do planeta?

- Seremos bem sucedidos como a samambaia, o tubarão ou o crocodilo em termos de sobrevivência da espécie?

- O raciocínio lógico-matemático, decorrente do desenvolvimento exagerado, quase aberrante, do córtex cerebral humano, é realmente vantajoso para a espécie?...

...mas esse é um assunto para a próxima postagem.

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terça-feira, 15 de maio de 2012

Evolução e seus equívocos (I)

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O crânio de um Dryopithecus, usualmente chamado de Proconsul,
de mais ou menos 20 milhões de anos: um dos candidatos
a "elo perdido" entre o ser humano, o chimpanzé e o gorila.
O grande equívoco sobre a Evolução Humana

A Teoria da Evolução concebida originalmente por Charles Darwin e Alfred Russel Wallace (1) suscita muitas paixões, tanto entre seus defensores quanto entre os desafetos. Como qualquer apaixonado, cada lado eventualmente incorre em erros. Por exemplo: a assertiva a seguir já foi escrita, dita e repetida à exaustão, mas é surpreendente como ainda há tantos que não a compreendem – alguns por falta de elementos conceituais; outros, quem sabe, por má vontade.

Mas, vamos lá, não custa reforçar:

O homem NÃO evoluiu do macaco e Darwin JAMAIS afirmou isso.

Na infundada hipótese de uma evolução que convertesse chimpanzés, gorilas ou orangotangos em seres humanos, seria lógico assumir que ainda hoje haveria macacos se transformando em pessoas. Chimpanzés, gorilas e orangotangos ainda existem, e não há base teórica para negar que as forças supostamente responsáveis por sua conversão em humanos no passado ainda poderiam atuar. Portanto, se esse equívoco com ares de sofisma fosse correto, esbarraríamos por aí, ainda hoje, em uma série de categorias intermediárias de “homens-macaco” – e o evolucionista sabe muito bem disso para não defender tal aberração.

À luz da Teoria da Evolução, a hipótese mais aceita (2) admite que tanto a espécie humana quanto seus parentes primatas descenderam de um ancestral comum depois de um processo evolutivo que se cumpriu há alguns milhões de anos – e que, possivelmente, ainda esteja a atuar. Em determinado “momento evolutivo” (que pode abarcar milênios) da sua história natural, dentro de condições ambientais peculiares (mudanças climáticas, competição, disponibilidade de recursos, migrações etc.) combinadas com eventos biomoleculares também peculiares (mutações e recombinações gênicas), um ou alguns indivíduos da espécie ancestral sofreram modificações e originaram outras espécies – sujeitas, por sua vez, ao mesmo processo, e assim ad finem. Eis o fenômeno ao qual damos o nome de Seleção Natural, e uma das suas decorrências é a Adaptação – a consequência alternativa é a extinção.

Quanto ao aspecto daquele ancestral – que muitos fantasiam como o de um chimpanzé – é até razoável assumir que pudesse ser mais parecido com um macaco moderno que com o ser humano, uma inferência lógica feita a partir da maior complexidade das características humanas com relação aos demais primatas. Todavia, esse ancestral provavelmente era tão diferente de qualquer macaco moderno quanto eles são, atualmente, diferentes entre si. Para um gibão, um gorila é um bicho tão diferente dele quanto o orangotango é para o sagui. E, a despeito da similaridade genética, tanto quanto o chimpanzé nos parece diferente de nós mesmos.

Uma das genealogias propostas para a Superfamilia Hominoidea:
1 – homo sapiens, 2 – chimpanzés, 3 – gorilas, 4 – orangotangos,
5 – gibões, 6 – gigantopitecus, 7 – driopitecus, 8 – keniapitecus.
Enfim, nós humanos não procedemos de nenhum desses animais – que, aliás, não existiam naquele passado remoto. Nós apenas partilhamos o mesmo ancestral, também único como espécie, que viveu há muitos e muitos milhões de anos e desapareceu, porque se modificou (a alternativa, como já disse, seria a extinção). Mas não sem antes deixar o testemunho de sua existência sob a forma de vestígios que podem e devem ser analisados com isenção pela prática da boa e velha Ciência.

Por Marcello Cabral
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(1) Em geral pouco divulgada, a colaboração de Wallace foi fundamental tanto para a concepção quanto para a consolidação da teoria evolutiva exposta por Darwin no seu A Origem das Espécies. Não seria exagero afirmar que sem tal colaboração não teríamos o legado darwiniano.

(2) Hipótese fundamentada em achados fósseis e evidências biomoleculares que, dado o caráter não acadêmico deste ensaio, seria desnecessário detalhar.

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Nota:

O uso da expressão “maior complexidade das características humanas” em vez de “características mais evoluídas” não é por acaso, tampouco é mera pretensão retórica. É uma confusão muito comum se falar em espécie “mais evoluída” que outra, ao passo que elas são apenas diferentes – não obstante a maior ou menor complexidade de determinadas características. Por exemplo, se fosse correto afirmar que “o macaco não é tão evoluído quanto nós por não ter cérebro desenvolvido” seria também correto dizer “que não somos tão evoluídos quanto os elefantes porque não temos tromba”... Mas este é um assunto para a próxima postagem.

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quarta-feira, 2 de maio de 2012

Terça-feira nas manchetes

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- Correio Braziliense: Uma bolsa sob medida para o PT nas eleições

- Jornal de Brasília: Só restou o domingo...

- Destak DF: Multa na faixa exclusiva da W3 Sul começa hoje

- Diário da Manhã: Goiano evita o bafômetro

- Folha de SP: Europa é tomada por incertezas após eleições

- O Estado de SP: Patrimônio de Demóstenes quadruplilcou após eleições

- Valor Econômico: Mão de obra vira a principal preocupação de empresários

- O Globo: Bancos reagem a Dilma e não garantem crédito maior

- Jornal do Commercio: Montadoras têm maior estoque desde a crise de 2008

- Estado de Minas: Minas de contrastes: desigualdades econômicas e sociais...

- O Tempo: MG vai internar viciado sem o seu consentimento

- Correio da Bahia: São João na seca

- Diário de Pernambuco: Recife terá o dobro de carros até 2020

- O Liberal: Vazamento deixa 150 mil consumidores sem água

- Gazeta do Povo: Exportação recorde de soja testa limites do Porto de Paranaguá

- Zero Hora: Sem dinheiro para investir, Tarso tenta seduzir europeus

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