quarta-feira, 6 de abril de 2011

Do walkman ao lixão tecnológico

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Eu sou do tempo do walkman (se você não sabe o que é isso, pergunte a alguém com mais de trinta... ou ao tio Google).

Garoto ainda, doze ou treze anos de idade, aquele treco de pendurar na cintura e ouvir música era meu sonho de consumo. Mas custava caro pra mim. Sem falar no custo das pilhas, dos fones de ouvido (estragavam fácil) e das fitas K-7. Fitas de cromo, jamais de ferro – além de assassinar graves e agudos, as de ferro sujavam as cabeças de gravação.

Lembro que penei para ter meu primeiro walkman. Mas tive, e mais um ou dois nos anos seguintes (até o advento do indefectível compact disc e seu player portátil, sinais dos tempos...).

Meu primeiro walkman foi uma realização! Sim, pois da origem rural e humilde eu trazia lembranças dos velhos rádios de pilha e sua estática onipresente, e dos toca-discos e seus vinis, chiando na sala em acústico comunismo. Rádio e vitrola pertenciam à família, não eram tidos como objetos pessoais, íntimos, transportáveis, venais... O walkman era meu. E só meu.

Mas, claro, o tempo passou. Tudo isso virou história. Memórias tolas de um tempo em que um walkman era o sonho de consumo de um guri de treze anos. E que quando realizado, parecia ser para sempre... Hoje a tecnologia é pródiga. E perdulária. Não raro se tem em casa caixas e gavetas repletas de uma sequência empoeirada de novidades tecnológicas que não são mais tão novas assim. Ano após ano, o conteúdo das tais caixas e gavetas aumenta. Às vezes, num arroubo de organização, elas se esvaziam abruptamente. E o conteúdo vai para o lixo.

Um aparelho celular dos comuns, hoje não dura mais que um ano. Não que deixe de funcionar, mas há novidades na praça, novas gerações, mais bonitas, com mais recursos, e apenas por X parcelas de uns poucos dinheiros! Um smartfone, um notebook, um videogame, uma TV, ainda que perdurem um pouco mais, seguirão para o mesmo destino: a obsolescência. Seja programada ou não, seja tecnológica ou por mero modismo, seja por problemas de compatibilidade, de espaço, de acessibilidade ou por simples desejo de consumo, a obsolescência é o cada vez mais precoce “destino irrevogável” de toda parafernália tecnológica, seu prematuro “descanso eterno”...

O que dizer então dos acessórios?... Carregadores, controles, fones, mídias, caixas acústicas, webcams, monitores... Com estes, o destino é ainda mais implacável. Não há tempo para se desenvolver sequer um rudimento daquela espécie de afetividade que, no passado, nos unia aos nossos vinis, tape-decks, walkmans, ataris e afins. Aqueles eram objetos únicos, como se houvesse com aquelas pequenas “maravilhas” tecnológicas uma ligação extramundo – meio metafísica, ouso dizer. O acesso era mais difícil, o preço era proibitivo, a durabilidade era maior. Em razão dela, da maior duração, a história de cada um daqueles troços era mais significativa. Não eram levianos como os de hoje...

Hoje, jogamos fora a parafernália com a mesma facilidade que no passado nos livrávamos de um caderno usado (desde que não houvesse ainda umas folhinhas em branco, sobre as quais, sabíamos, dava pra registrar uns arroubos poemísticos, ou umas gravuras de motivos assim meio rock’n’roll, meio psicodélicos...). Hoje, nos livramos disso tudo sem dificuldade, pois é acessível e é barato, encontra-se fácil no xópin ou na feira dos “importados”, e o velho (velho?) vai parar no lixo sem culpa.

Mas, e o lixo?... Pra onde vai todo esse “lixo tecnológico”?

O consumo agalopado inconsciente-inconsequente dessa tralha tecnológica acaba produzindo verdadeiras, sem exagero, montanhas de lixo. Reciclar essa hipérbole? Custa caro, não é economicamente viável (e o lobby é forte...). Incinerá-la? Difícil, muito metal, muitos resíduos tóxicos (como se verá adiante...).

Então?... Para onde vai o entulho do nosso conforto? Para onde seguem os destroços da nossa gana consumista que sim, claro, podemos pagar por ela, mas que não, quase nunca, exercitamos a tão defendida e apregoada “consciência ecológica”? (Aliás, isso também está na moda!)

Esse entulho, caro e antenado consumidor, sempre munido de seu plástico visa/mastercard, sempre atento às promoções, o cadastro sempre em dia nas melhores lojas do ramo, reais ou virtuais, esse entulho vai parar em lugares como este aí ó:



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Mais sobre "Gana, o lixão mundial de teconolgia", aqui:

http://tride3.blogspot.com/2010/08/gana-o-lixao-mundial-de-tecnologia.html

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2 comentários:

Mariê disse...

Sempre quis um walkman e nunca ganhei... Ganhei, mais tarde, um rádio toca-fitas!

Hoje, realmente, as coisas se tornaram descartáveis. É triste. E mais triste ainda saber o destino de todo esse lixo.

Pobre povo.

Marcello disse...

Preta, eu imagino (só posso imaginar) a expressão de satisfação nos seus olhinhos quando ganhou seu rádio toca-fitas... e com a sensação de que era pra sempre (né?).
Hoje está tudo mudado (como diz aquele velho samba-enredo), e o que pega o pé da gente é a parcela do mundo que sofre com essa... mudança.